Na escola municipal Artuíno Arsand, do bairro Guarani, em Parobé, um exemplo concreto serve para ilustrar como a inclusão escolar pode funcionar na prática, trazendo resultados satisfatórios para todas as partes envolvidas. Desde 2010, o educandário conta com um aluno cego, que conseguiu se entrosar perfeitamente às condições oferecidas, evoluindo no aprendizado e estabelecendo relacionamentos construtivos com colegas, professores e direção.
O menino Everson Kaian Anhaia Fagundes, de 10 anos, atualmente está matriculado no 2º ano do Ensino Fundamental. A sua inserção no Artuíno Arsand foi precedida de um amplo trabalho adaptativo, conforme explica a diretora Maristela Martins Pereira. A preparação envolveu toda a escola e passou por uma série de atividades, como, por exemplo, exercícios físicos e desenhos com os olhos vendados em que professores e alunos eram levados a se pôr no lugar de uma pessoa que não consegue enxergar.
Kaian, como é mais conhecido, vinha de uma escola estadual de São Leopoldo, onde freqüentou uma classe especial, e em Parobé já recebia atendimento no CMAEE (Centro Municipal de Atendimento Educacional Especializado Professora Flávia Maria Brito). A professora Michele Brito, que trabalhou com o menino no ano passado, conta que todo o trabalho na escola foi feito com a intenção de que ele fosse tratado normalmente e que participasse de todas as atividades possíveis. Assim, os coleguinhas acostumaram-se a guiar o novo colega pelos corredores a fim de que chegasse à sala de aula ou a outras dependências, como o banheiro, por exemplo.
Hoje, é possível ver Kaian participando de atividades físicas que muitos poderiam achar impraticáveis para ele, como, por exemplo, jogo de futebol ou basquete. O menino ainda precisa que alguém pegue em sua mão para correr pela cancha, mas a escola já tem um projeto para aquisição de uma bola com guizo, para que ele possa identificar a aproximação do brinquedo pelo ruído.
Como é próprio de quem vive na sua circunstância, o garoto também tem muita sensibilidade e habilidade com as mãos, tanto é que costuma identificar seus interlocutores pelo tato, apalpando a cabeça e o rosto, principalmente. É o que faz com o maior amiguinho da classe, o pequeno Roger (Roldão de Oliveira), seguido de um abraço apertado que mostra toda a cumplicidade entre ambos.
Fotos:
Créditos: Divulgação/Alvaro Bourscheidt
(151) Kaian com colegas de classe, professores da Artuíno Arsand e representantes do DAEE
Materiais em braille e
atenção na hora cívica
Kaian também gosta de tocar um instrumento musical, a bateria, manejando as baquetas com uma desenvoltura que chega a surpreender. Tanto é que foi muito aplaudido durante uma apresentação realizada na abertura de um fórum regional sobre deficiências, ocorrido em Parobé no último mês de agosto.
A professora Jane Ribas, que trabalha com Kaian neste ano, conta que o aluno com deficiência visual consegue participar da maioria das atividades propostas em sala de aula. Ao distribuir material para a turma em processo de alfabetização, ela se dá ao trabalho de transcrever em braille as palavras do exercício de leitura destinado a Kaian.
Os maiores progressos, todavia, são testemunhados pela pedagoga Monica Reis Carvalho, que atua no CMAEE e acompanha o menino há cerca de cinco anos. “A evolução dele é enorme, especialmente no aspecto da sociabilidade. Antes era tímido, agora age com total espontaneidade”, constata. “Sou eu que controlo esta escola”, diz Kaian, do seu jeito, como que interpretando o carinho e a atenção recebidos. Foi o que chamou a atenção da própria Monica, numa recente hora cívica realizada na escola. “Sem que ninguém pedisse, um menino maior se agachou do lado do Kaian e começou a descrever para ele tudo que se passava”, exemplifica.
Para a coordenadora do Departamento Educacional Especializado (DAEE) da Secretaria Municipal da Educação de Parobé, Joana d’Arc Wittmann, a ideia da inclusão se aplica a todas as escolas que compõem a rede, mas o êxito vai depender da forma como cada qual acolhe o aluno, tomando-o como seu, e da implicação dos professores no processo.
No caso especifico da Artuíno Arsand, segundo Joana, a experiência com o menino Kaian pode ser considerada referencial. Tanto é, observa, que não houve necessidade de intervir na estrutura física da escola para receber o aluno deficiente, a não ser adquirir alguns materiais especiais para trabalhar com ele. “A parte mais difícil, sem dúvida, é a metodológica”, finaliza.
(033) Kaian mostrando sua desenvoltura na bateria em evento regional sobre deficiências
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