quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Empatia sem fronteiras: psicóloga Débora Noal trabalha a ressignificação da vida em países subsenvolvidos

Nesta segunda-feira (1°), a Faccat, por meio do Núcleo de Integração dos Alunos de Psicologia (NIAP), recebeu palestra com Débora Noal, psicóloga da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF).
O consultório de Débora é o mundo, onde atende missões de socorro emocional em comunidades de países subdesenvolvidos castigados por guerras civis e desastres naturais. Geralmente seus pacientes são pessoas que tiveram toda a sua rede socioafetiva devastada, foram violentadas, mutiladas ou infectadas por epidemias. Em síntese: perderam tudo, mas ainda têm uma chance de ressignificar a vida.
Entre os socorros relatados, os haitianos pós-terremoto de 2010, os congoleses que vivem em extrema miséria e sobrevivem a uma guerra civil sem fim e libaneses presos nos campos de refugiados. Sem falar em uma das maiores perversidades que igualmente parece não ter fronteiras: mulheres sexualmente violentadas.
— “Você pode me ajudar a esquecer o que passei?”, às vezes ouvi. Infelizmente, a psicologia não chegou a esse ponto. Mas as pessoas, mesmo em meio a velhas perversidades, ainda querem viver. Sentir de novo o que é viver. E é aí que meu trabalho entra: procuro encontrar uma forma de ressignificar a existência delas, que por vezes perderam toda a família — relatou Débora.
Entre os tantos trabalhos humanitários mundo afora, em 2008 Débora esteve no Haiti, após a passagem de um furacão (Foto: arquivo pessoal)
VIVÊNCIAS MUNDO AFORA VIRARAM LIVRO
Em seu livro ‘O Humano do Mundo’ , ela compartilha seu diário – um companheiro de todas as viagens e um amigo nos momentos de dor – conquistas e alegrias. São relatos em missões realizadas no Brasil, Haiti, República Dominicana, Guiné, Congo, Quirguistão, Líbia e Sudão do Sul em dez anos de atuação no MSF.
— Meu consultório não é a de um psicólogo normal. Não é tranquilo ou cheiroso. Aliás, nessas missões, em países de destruição severa, o cheiro da morte é uma constante. E a ressocialização de pessoas que não têm condições físicas para trabalhar, ou seja, de retornar à vida em comunidade, não é sempre bem vista aos olhos de sua própria gente. Uma vítima de ebola pode ter sua casa queimada pelos vizinhos, para se ter uma ideia. É um grande desafio — explica.
Débora e sua obra ‘O Humano do Mundo’ (editora Astral Cultural)
Antes de apresentar aos acadêmicos a palestra “O Cuidado Sem Fronteiras: a psicologia em contexto de emergências complexas, desastres e catástrofes”, a psicóloga concedeu uma entrevista exclusiva ao editor do portal TCA, André Amaral.

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