domingo, 24 de maio de 2020

O que a polícia busca esclarecer sobre o caso Paulo Bilynskyj e a modelo de Parobé Priscila de Barrios

Possíveis alterações na cena do crime, falta de exame residuográfico e perícia nas armas apreendidas são alguns dos pontos-chave que faltam à Polícia Civil na investigação sobre o caso do delegado Paulo Bilynskyj, que foi baleado, e da modelo de Parobé Priscila de Barrios, morta na quarta-feira.
Investigação preliminar da polícia aponta como verdadeira a versão apresentada por Bilynskyj de que ocorreu uma tentativa de homicídio seguida de suicídio. No entanto, investigadores do caso suspeitam que possa ter havido, na verdade, um feminicídio.
Bilynskyj afirmou que sua namorada atirou seis vezes contra ele, depois de ver uma mensagem no celular dele que não gostou. Após atirar contra ele, ela se matou, segundo o policial. A Corregedoria da Polícia Civil apura as versões.
A modelo foi encontrada ainda com vida no banheiro do apartamento, com uma marca de tiro na altura do peito, na região lateral do corpo. Ela foi socorrida a um hospital próximo, mas não resistiu ao ferimento.
Já o Bilynskyj, baleado no dedo, perna e abdômen, passou por cirurgia anteontem e por outras duas ontem. Boletim médico relatados por colegas de trabalho dele apontou, na tarde de hoje, que ele estava entubado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Com passagem pelo DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), atualmente o delegado é plantonista no 101º DP (Distrito Policial), no Jardim das Imbuias, zona sul de São Paulo.
O que precisa ser esclarecido
Apesar do fato de que a investigação preliminar da polícia tende a estar de acordo apenas com o depoimento de Bilynskyj, investigadores afirmaram que há “fios soltos” que, para o esclarecimento do caso, devem ser apurados.
Perícia para identificar de onde partiram os tiros
Seis armas foram apreendidas na casa do delegado, e apenas uma delas pertence à Polícia Civil.
As armas apreendidas pela polícia e citadas no boletim de ocorrência são: duas pistolas, dois fuzis, uma metralhadora e uma espingarda (esta última teve registro vencido em abril de 2019, e Helenice Vaz de Azevedo Corbucci é mencionada como proprietária).
Um PM que atendeu a ocorrência relatou na delegacia que calculou que havia oito estojos de munição e uma pistola Glock 9mm com um carregador municiado ao lado, além de um projétil amassado no corredor que dá acesso à cozinha, o que indicaria que houve mais de sete tiros no apartamento.
O delegado afirmou que ela disparou seis tiros contra ele e depois se matou. Ou seja, pelo menos um tiro a mais teria ocorrido.
Perícia nas armas tentará identificar de quais delas partiram os tiros. Uma comparação feita com a posição na qual a namorada foi encontrada no banheiro e onde os tiros atingiram — tanto o corpo dela, o dele e paredes do local — deve indicar se houve tiroteio, feminicídio ou homicídio seguido de suicídio.
Possível alteração na cena do crime
Embora Priscila tenha sido encontrada no banheiro, um dos quartos, que foi transformado em academia de ginástica pelo delegado, tinha um espelho com marcas de sangue no formato de mãos, dizem investigadores.
Eles apuram se o delegado se apoiou no local depois de ser baleado, ou se o sangue era da namorada. Nessa segunda suposição, os policiais investigariam se ele a baleou e foi ao quarto com o objetivo de alterar a cena do crime.
Acostumada com arma, namorada errou seis tiros?
Priscila, assim como o delegado, mostrava ser interessada em armas. Ela costumava fazer cursos de tiro, inclusive no mesmo lugar onde o delegado fazia instrução.
Segundo policiais civis, ela sabia atirar por treinar regularmente. Investigadores suspeitam que, por saber manusear armamentos, ela não erraria seis tiros numa curta distância.
Suicídio de forma improvável
Investigadores levantaram suspeita, também, sobre o local em que ela foi atingida: na altura do peito, na região lateral do corpo. Segundo policiais, é possível que ela tenha se matado, mas, se o fez, seria algo raro por conta da região em que foi atingida.
Delegado é professor de Medicina Legal
O delegado é professor em uma escola preparatória para concursos públicos de São Paulo. Lá, ele dá aula de Medicina Legal. Peritos entrevistados pela reportagem afirmam que, tecnicamente e hipoteticamente, ele teria condições de alterar uma cena de um crime, mas aguardam a finalização do inquérito para entender qual foi a dinâmica.
Exames residuográfico
Exames residuográficos feitos nas mãos da modelo atestaram que, por ter resíduos de pólvora, ela pode ter atirado. Nas mãos do delegado, porém, nada foi feito, uma vez que ele estava em estado grave e foi levado para o hospital com urgência.
Sem o exame no delegado, uma das principais provas que atestaria sua versão — de que não atirou, mas foi vítima de tentativa de homicídio — fica prejudicada.
Perícia deve acontecer no local
Apesar da falta de exame residuográfico, outras perícias devem ser feitas no apartamento do delegado. Lá, os peritos devem colher amostras de sangue, comparar possíveis marcas de tiro e ouvir vizinhos para saber se alguém escutou algo que possa ajudar a esclarecer o crime.
Polícia crava tentativa de homicídio seguida de suicídio
No primeiro boletim de ocorrência finalizado, a Polícia Civil tinha uma série de possibilidades de classificação da ocorrência, entre elas: homicídio, tentativa de homicídio, morte suspeita, suicídio e lesão corporal.
Sem todos os trabalhos de perícia finalizados, o delegado responsável pela investigação, Filipe de Morais, classificou o caso considerando apenas o que Bilynskyj falou: uma tentativa de homicídio seguida de suicídio.
O que diz a Secretaria da Segurança de SP
O caso foi registrado no 1º DP (Distrito Policial) de São Bernardo do Campo. Procurado, o delegado responsável pela investigação, Filipe de Morais, preferiu não se posicionar para a reportagem sobre o assunto.
Por meio de nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) confirmou que “a ocorrência está em andamento e será registrada pela Corregedoria da Polícia Civil”. A pasta pontua que “todas as circunstâncias relativas aos fatos serão apuradas em inquérito policial pelo órgão corregedor da instituição”.
*Com informações de UOL

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